Em vias de completar 76 anos os trólebus de São Paulo têm bastante a nos ensinar e fazer refletir sobre a cidade, sobre políticas públicas e sobre nossa relação com a tecnologia. Mesmo com todas as dificuldades, o sistema – em conjunto com o do ABC Paulista – ainda é o maior da América Latina, porém não tanto pelo seu sucesso mas sim pelo descaso e desmonte de seus pares em outros países que também chegaram a ter tantos veículos e com redes tão abrangentes quanto as nossas.
Mas antes de falar sobre o trólebus no presente, e de apresentar o futuro deles, precisamos voltar no tempo e explicar, o que é um trólebus, no fim das contas?
A resposta curta seria a de que um trólebus é um ônibus elétrico alimentado por fios suspensos no ar, através de uma alavanca que é pressionada para cima com o uso de molas ou pistões. Mas para entendermos o contexto de cada aplicação dos trólebus pelas cidades ao redor do mundo temos que ir além de definições básicas.
No dia 22 de abril coincidem duas datas comemorativas que me inspiraram a finalmente criar esse site e publicar o que penso quanto a nossas cidades, nossa nação e nossa economia, com foco nos desafios que devemos encontrar ao longo do século XXI.
Antes de sequer imaginarmos a magnitude da emergência climática da qual nos envolveríamos, ainda na virada da década de 1970, movimentos de ativistas do meio ambiente, da paz e sindicalistas da indústria automobilística se uniram, fortaleceram e culminaram naquilo que viria a ser o Dia Internacional da Terra.
Realizado no dia 22 de abril de 1970 nos Estados Unidos e com mais de 20 milhões de manifestantes nas ruas, ficou marcado na história ao trazer visibilidade a discussão do meio ambiente e da paz. Os tempos eram outros: a gasolina ainda era barata, a guerra do Vietnam rolava solta, e a noção de responsabilidade para com a natureza ainda engatinhava.
Muito mudou daquele 22 de abril para cá. A data ganhou um significado maior e com muita pesquisa e dedicação de inúmeros cientistas acabamos descobrindo o tamanho do problema em que nos encontramos. As mudanças climáticas são reais, já estão acontecendo e somos responsáveis diretos por elas.
A emissão desenfreada de gases causadores do efeito estufa na atmosfera que ocorre desde a revolução industrial desencadeou uma situação perigosa que agora temos que agir para conter.
Ao mesmo tempo, a revolução industrial foi um marco importante que trouxe uma elevação da qualidade de vida nunca antes vista na história da humanidade. É a mesma revolução industrial que permite eu ligar esse computador e escrever esse texto. Uma contradição com a qual temos que conviver e saber lidar.
Muitos podem negar a existência, ou reclamar por metas tidas como demasiadamente draconianas, porém a emergência climática é real e temos que fazer alguma coisa antes que chegue em um ponto de não retorno.
Porém ao superar a fase da negação nos resta duas opções: encarar a realidade pelo viés negativo de que nada pode ser feito e que estamos condenados, sendo mais conveniente e confortável manter as coisas como estão, o que assisto em grande parte de minha geração.
Ou colocar os dois pés no chão, ter uma visão de 360 graus, refletir e aprender com o passado, pensar no presente e discutir e debater o futuro para que possamos atravessar esse desafio de forma a nos fortalecermos e sairmos melhor do outro lado. Esse é o meu viés e esse é o viés deste site.
Nosso ponto de partida é o presente, porém é essencial refletirmos sobre o passado e aqui emendo com outro evento que ocorreu em um 22 de abril: Em 1949 circulou pela primeira vez em linha comercial os trólebus que ligavam o bairro da Aclimação com o centro.
O sistema de trólebus de São Paulo deve comemorar 76 anos nesse 22 de abril. A linha acima citada ainda existe e os trólebus continuam a circular, mas hoje ele é a sombra daquilo que já foi.
Há bastante o que se falar sobre o descaso com os trólebus, mas também muito há o que se falar sobre o descaso com as ferrovias, sobre os rumos da eletrificação de nossas vidas que ainda são absurdamente dependente dos combustíveis fósseis e deve ser promovido com urgência.
Também há de se falar do uso do solo e nossa relação com as cidades, além de questionar o futuro de nossas vidas em um mundo cada vez mais digitalizado onde o home office cresce e a inteligência artificial libera nossas inseguranças.
Tudo isso e muito mais deve ser abordado nesse site mas precisamos de um ponto de partida, e dado a ameaça de extinção de todo um modal de transporte pairando no ar, falaremos sobre os trólebus.